orgulho...
Com a morte dos Tédio Boys quase que ficou uma sensação de despovoamento num género que muito bebeu ao Garage sem esquecer uma rica atitude DIY típica da música Punk. Mesmo com as várias excelentes bandas que daí surgiram, a rebeldia parece já não ser a mesma.
Por isso mesmo, é bom quando aparecem uns Wage a ressuscitar a rebeldia que Coimbra viveu e que parece ter esquecido. Pena para a cidade dos estudantes estes rapazes serem da Marinha Grande, pois ela bem precisa de um pouco de fôlego. Pode ser que eles lho levem nos próximos tempos, com uma actuação.
Este EP é o produto de pecadores assumidos – o próprio percorrer das oito músicas que o constituem parece ser acompanhado pelo travo a uísque que caracterizava a presença de muitas vozes: de faixa para faixa a voz vai-se entranhando cada vez mais nas melodias de forma cada vez mais ébria. O melhor de se ser pecador é o prazer que daí se subtrai, e essa é uma qualidade que The Wage não escondem querer atingir; basta ver-se como no fim destas Sin and Redemption Sessions se ouve a voz de Diogo, o vocalista, a proferir claramente "I'm a sinner! Yeah!" E o mesmo se sente na forma despreocupada com que as músicas se insurgem.
Sem pretensiosismos – apenas os do Rock puro e duro, a que se associa uma grande dose de religiosidade anti-católica através dos mais saborosos pecados e ainda uma grande dose de perdão pela atitude melancólica e confessória dos Blues –, esta quadrilha mostra-se desenvolta nos instrumentos e sensata a compor: ainda que completamente inebriadas por uma quase Punk, que a certa altura tomou posse do Garage, as músicas são ponderadas ao ponto de não estarem estruturadas às três pancadas, a despachar para a parte que pega.
Bons exemplos de tudo isto são as músicas Clap Your Hands e Payback, que se desenvolvem calmamente (ou com toda a calma que o Rock a abrir permite), cantadas quando têm de ser cantadas, com riffs de pôr a bater o pé e uns quantos berros para puxar pela própria música. São também as melhores músicas de um EP que, apesar das suas qualidades, merece trabalho.
Sendo uma edição de autor gravada numa garagem, Sin and Redemption Sessions, ao contrário dos seus autores que, vendida a alma ao diabo, se absolvem pelas guitarradas, não está inteiramente livre dos seus pecados. Felizmente, estes não assombram ninguém, são as problemáticas da gravação que se corrigem com uma produção.
É bom quando a boa música não se deixa morrer, ou quando alguém tem o desplante de a ir buscar, onde quer que ela estivesse, para fazer boas malhas. O Garage tem bons assessores nestes quatro da Marinha Grande. O que o futuro lhes reserva, não se sabe; o presente parece uma possibilidade: o que demonstram neste EP é concretizável ao vivo e tem uma onda Rock de pôr a sacudir esqueletos, de vários géneros, tamanhos, e sem preconceitos. Afinal, toda a gente peca!
in ponto alternativo
“I’m a Sinner”, dizem…
É um pecado feliz que se repete com base na Marinha Grande. Gravado no fim de 2007, os The Wage conseguiram finalmente chutar cá para fora, transpor para disco, todo o fogo que algum deste povo já pôde sentir ao vivo. A realidade do palco. Formados em 2005, entre a Marinha Grande, Leiria e Coimbra, os The Wage têm em “Sin and Redemption Sessions” um destilar enérgico do melhor garage-rock nacional, manto onde se espraiem sem delicadezas influências blues e punk. Sem tropeções nem tempo para inventar rodas, as oito faixas de “Sin and Redemption Sessions” desfilam num piscar de olhos absolutamente fulgurante; de tirar o fôlego. Se a coisa não é nova - muito na linha de uns The Vicious Five, “Sin and Redemption Sessions” mantém-se de início ao fim num nível alto, com as guitarras a rasgarem caminho para uma voz perto da loucura. Baixo e bateria, marcam o bom do ritmo. O resto é mesmo festa, prolongamento de noites loucas e bem bebidas. Rebeldia rock.
Sem redenção possível. Pecadores até ao fim.
in a trompa